Da Escrita Braile à Internet


Educação e Inclusão de Pessoas Cegas: da Escrita Braile à Internet 

 Através deste artigo, pretendemos fazer um breve histórico dos processosde inclusão de pessoas cegas ou com diversos níveis de deficiência visual no ambiente acadêmico, mostrando a evolução da educação desde a escrita braile aos modernos sistemas informatizados dirigidos a esse público. Ao analisar estes meios, apontam-se caminhos possíveis, com ênfase especial na experiência adquirida graças às pesquisas que estão sendo realizadas na Universidade Federal de Pelotas.
            Nos últimos tempos, um tema que tem estado bastante presente nas pautas de governos, ONGs, grupos de educadores e da sociedade em geral é o instigante, mas nem sempre bem compreendido, tema da inclusão. Nosso trabalho tem a pretensão de estabelecer um breve histórico sobre os caminhos da inclusão de pessoas cegas ou com diversos níveis de deficiência visual, além de mostrar as novas possibilidades que têm surgido graças à disseminação da informática e da internet, em especial nos meios acadêmicos, que é nosso interesse maior.   
          
      O que é inclusão?

Antes de prosseguirmos, é importante deixar claro o que é a inclusão social a que nos referimos.  Inclusão social é um conceito que começou a se gestar desde 1950 em órgãos e insituições como a ONU, e que engloba uma série de projetos, políticas, leis, serviços, etc., voltados, inicialmente, a atender pessoas com necessidades especiais, visando a sua integração na sociedade, por meio da educação e do trabalho digno.  Com o tempo, o termo inclusão também passou a ser utilizado para falar dos grupos desfavorecidos, como as mulheres, as minorias étnicas, os pobres e miseráveis. Mais ainda, hoje também está sendo utilizado para designar as políticas que visam a beneficiar as pessoas que, por diferentes motivos, não têm acesso aos meios de comunicação e à informática e, em virtude disto, acabam ficando apartadas dos atuais processos de evolução social. É importante deixar claro que políticas  inclusivas não podem ser confundidas com políticas assistencialistas. Isso quer dizer que “incluir” significa criar as ferramentas para que cada indivíduo, por seus próprios meios, consiga estudar e progredir no mercado de trabalho e na sociedade; jamais poderíamos crer que “incluir” é igual a fornecer bolsas, mesada ou esmolas.

A escrita braile e as audiotecas locais

A ferramenta de educação de cegos mais conhecida é a escrita braile. A escrita braile foi criada na França, por Louis Braille, no século XIX, e, ainda que poucos o saibam, o Brasil foi um dos primeiros países a adotar o sistema, impulsionado pelo médico francês a serviço da corte brasileira, Dr. Xavier Sigaud, que, com o apoio de D. Pedro II, foi um dos fundadores e o primeiro presidente do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, inaugurado no Rio de Janeiro em 17 de setembro de 1854, e que viria, mais tarde, a tornar-se o Instituto Benjamin Constant, referência nacional para a inclusão de pessoas com deficiência visual.
Atualmente, o Instituto Benjamin Constant é o principal editor de obras em braile em nosso país. Apesar de ser uma ferramenta poderosa de inclusão, ela apresenta uma série de aspectos limitadores. Entre as maiores dificuldades está o fato de que as obras assim impressas são muito caras, pesadas e difíceis de manusear, além de estarem disponíveis em relativamente poucas cidades do Brasil. Outro fator limitador, é que necessita de pessoal especializado para seu ensino e nem todos os cegos sabem ler em braile. Uma forma alternativa de acesso à informação para cegos são as audiotecas locais. Uma audioteca é um espaço estruturado à semelhança de uma biblioteca que conta com fitas K7 ou CDs, gravados por voluntários, contendo leituras de  obras literárias ou técnicas que tendem a auxiliar o processo inclusivo de pessoas com deficiência visual.
 Meios digitais de inclusão Com o advento da era da informação e os modernos meios digitais, abrem-se novas possibilidades para a inclusão de pessoas com deficiência visual.
       Os avanços da informática têm permitido um sem-número de realizações nesta área. Através de leitores de tela com sintetizador de voz e os recursos que a internet apresenta, muitas pessoas com deficiência visual hoje têm acesso a novas maneiras de dar prosseguimento a seus estudos. Há, todavia, aqueles que discordam da eficácia da internet como ferramenta, argumentando que a informática e a internet ainda estão engatinhando em nosso país, e que os meios de acesso a estas tecnologias ainda são escassos, devido à extrema pobreza de boa parte da população. Se em parte este protesto tem fundamento, não podemos negar, entretanto, que estão ocorrendo vários progressos nesta área e o Brasil  é um dos mercados de internet que mais cresce atualmente, em número de usuários e de recursos:

A Internet é uma das novas tecnologias que vem crescendo e se tornando uma importante fonte de informação, notícia, comércio, serviços, lazer e educação, além de proporcionar novas formas de interação através de suas ferramentas de comunicação. Segundo Santarosa (2000), com a Internet ampliam-se, também, as possibilidades de educação a distância, não somente pelo acesso ao saber e à informação, mas, principalmente, porque potencializa a criação de alternativas metodológicas de intervenção pedagógica, abrindo-se um espaço de oportunidades, essencialmente para as pessoas cujos padrões de aprendizagem não seguem os quadros típicos de desenvolvimento. Para utilizar o computador, os usuários com história de deficiência geralmente utilizam ferramentas  softwares específicos, ferramentas que são conhecidas como tecnologias assistivas. 
Esses softwares lêem em voz alta os conteúdos que estão na tela do computador, permitindo que as pessoas cegas ouçam os conteúdos de uma página web. Entretanto, um leitor de tela não lê as imagens e as animações, mas somente o texto. Assim, é necessário que estes elementos gráficos sejam associados a descrições textuais que o software possa ler, sendo esse um exemplo de adaptação a ser feita para garantir a acessibilidade. 
Percebe-se, portanto, que o Brasil avança rapidamente no que diz respeito à inclusão
digital de pessoas cegas. Processo inclusivo nas universidades em geral Atualmente, muitas universidades estão apercebendo-se da necessidade de priorizar sistemas de inclusão em seus programas de  ensino, seja por meio de modificações em suas instalações, seja por meio da elaboração de sistemas informatizados de acesso à educação visando à inclusão das pessoas com deficiência visual.
A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por exemplo, conta com algumas iniciativas de inclusão, como o CADV (Centro  de Apoio ao Deficiente Visual), que possui fitas gravadas com textos e computadores com DOSVOX. Também essa universidade busca favorecer o ingresso de pessoas com deficiência visual através do vestibular em braile, implantado em 1996. Ainda assim, segundo estudos realizados na própria universidade, depois que o deficiente  ingressa em seu curso os recursos institucionais que garantem sua permanência são poucos e as dificuldades, muitas.
A Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, a seu turno, oferece um Curso de Pedagogia a Distância em que estão matriculados 31 alunos cegos ou com baixa visão. No curso, utilizam-se tecnologias de educação a  distância cuja finalidade é viabilizar novas formas de ensino-aprendizagem.  A grande vantagem deste sistema
sobre as audiotecas locais, é  que os arquivos estão sempre à disposição dos usuários, independente do lugar do mundo em que se encontrem.
A partir desta iniciativa, o Curso de Licenciatura em Matemática a Distância, o mais novo curso de graduação e primeiro na modalidade a distância da UFPel, contando com a colaboração de professores e estudantes da Faculdade de Letras, com experiência no assunto, iniciou estudos para implementar uma Audioteca  Virtual própria para o curso, em que os textos e livros didáticos produzidos por sua equipe serão lidos e vertidos para arquivos de áudio, visando à inclusão de alunos cegos na licenciatura.

O mais importante de tudo, entretanto, é  dar prosseguimento à divulgação destas idéias. Com isto, cria-se a possibilidade de que cada vez mais pessoas e instituições tomem consciência desta realidade e dos novos caminhos que surgem, a fim de que possamos ter uma educação cada vez mais inclusiva, abrindo as portas do mundo para pessoas com diversos tipos e graus de dificuldades e de habilidades.