DOSVOX


 DOSVOX - Uma nova realidade educacional para Deficientes Visuais

O que é o Projeto DOSVOX?

            O Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro vem nos últimos anos se dedicando à criação de um sistema de computação destinado a atender aos deficientes visuais. O sistema operacional DOSVOX permite que pessoas cegas utilizem um microcomputador comum (PC) para desempenhar uma série de tarefas, adquirindo assim um nível alto de independência no estudo e no trabalho.
            A tecnologia de computação tornou possível o rompimento dessas barreiras e muitas mais.
 Com o uso de “scanners”, o cego pode ler escrita convencional (datilografada) diretamente.  
·      Instrumentos eletrônicos podem ser conectados ao computador, e um cego consegue fazer arranjos orquestrais e imprimir partituras.  Existem hoje inúmeros cegos investindo pesado nesta área .
·      Um cego pode desenhar, usando o computador.
·      Um texto grande em Braille demorava horas para ser criado manualmente.  Hoje demora minutos com o uso de impressoras Braille.

O impacto do computador no ensino de deficientes visuais

a) no nível de ensino superior ou pós-graduação
            O número de estudantes de nível superior que são deficientes visuais graves é extremamente reduzido.  Por exemplo, na UFRJ existem apenas 5 alunos cegos.  Isso se deve a dois fatores: uma pessoa cega dificilmente consegue passar no vestibular, e uma vez passando, não encontra na universidade a infraestrutura necessária para seu desenvolvimento. A dificuldade é ainda maior à medida que que o grau de especialização aumenta. Falta a eles literatura especializada, equipamentos e monitoria especial. Essa situação veio a ser melhorada com a disponibilidade do computador, em especial do sistema DOSVOX.
    O impacto começa a ser sentido de forma sutil: hoje menos estudantes cegos abandonam a Universidade (na UFRJ nos últimos 3 anos, ou seja, a partir da disponibilização ampla do sistema DOSVOX, não houve abandono de curso por deficientes visuais). 

b) no nível de ensino médio
            A grande dificuldade do aluno de nível médio cego é o acesso aos livros didáticos.  Grande parte dos professores se utilizam exclusivamente do meio oral para transmissão de conhecimentos para os alunos e sua avaliação. A realização de trabalhos escolares, feita em Braille, e corrigida por um professor que não sabe Braille, é evitada.  O resultado disso é um aluno mal formado, com graves erros de escrita e, por praticamente não ler, um distanciamento cultural intenso.

Os trabalhos em grupo se tornam possíveis, e o estudante cego, em alguns casos se torna mesmo o datilógrafo do grupo, utilizando o sistema DOSVOX.  Eventualmente o texto datilografado no DOSVOX pode ser facilmente embelezado usando algum outro sistema de editoração eletrônica, sem prejuízo do conteúdo.
c) no nível de ensino fundamental
            No ensino fundamental, a relação professor-aluno toma um caráter de maior proximidade .  O professor deve levar ao aluno o conhecimento, e muitos dos livros didáticos são apenas cadernos de exercícios sofisticados, construídos quase sempre para atuar fortemente na motivação do estudante. Aqui, portanto, o papel do computador para os alunos deficientes visuais deve muito além os objetivos de transcrição do nível médio.  Deve atuar muito mais no nível interativo e lúdico do que no nível de informação.

            Desta forma, somos levados a afirmar que infelizmente o número de crianças que pode ter acesso pleno a todo potencial desta tecnologia é pequeno.

            d) no processo de alfabetização

            Diversas dificuldades do processo de alfabetização de crianças com graves problemas visuais decorrem de problemas mecânicos do método de escrita manual com o método Braille . Aqui se utiliza um estilete (punção), escrevendo-se de trás para diante no verso do papel.  O manejo do punção exige força e destreza e uma criança pequena tem dificuldades de adquirir o domínio da escrita.
 Nota:  os dois jogos mais usados aqui são o Letravox e o Letrix.  O primeiro associa cada letra teclada a uma historieta que tem relação com a letra em questão.  O segundo ajuda na formação de palavras, sonorizando o que a criança teclar, e caso a palavra faça sentido, dando alguma resposta agradável (em geral uma piadinha).  No Letrix, o professor pode gravar novas piadinhas de acordo com o interesse da turma.
Os professores acabam aproveitando as descobertas dos alunos para dar uma motivação maior ao ensino de Braille, que é muito beneficiado.  A criança aprende a ler Braille, mesmo antes que seja capaz de escrever.

e) no ensino profissionalizante

            O problema aqui se situa em dois níveis:  o treinamento conveniente (envolvendo outros itens além do computador, como por exemplo, um excelente conhecimento da Língua Portuguesa) e a aceitação das empresas.  Pouco a pouco esses itens tem sido trabalhados, e hoje já existem mais de 120 pessoas no âmbito Rio-São Paulo com trabalho envolvendo o uso direto do computador e telefone.   Esse número tem-se expandido com rapidez, graças ao uso do DOSVOX, que por seu baixo custo, permite a uma empresa ou órgão público pensar no treinamento de um deficiente visual como um investimento e não como uma caridade [ODIA, 98].

O impacto do sistema DOSVOX sobre a comunidade cega e deficiente visual é tremendo, e pode ser facilmente avaliado pela imensa repercussão nos meios de comunicação e nas escolas especializadas.  As principais vantagens do DOSVOX são sua simplicidade, custo e adequação à realidade educacional dos deficientes visuais do Brasil.
O projeto DOSVOX é uma cunha que abre novos espaços a uma parte importante da população brasileira. Com o uso efetivo do sistema, adaptado às reais necessidades dos cegos do Brasil, mais um passo foi dado no sentido de tornar os deficientes visuais em elementos mais produtivos e melhor integrados à sociedade.